Na tentativa de dominar o comércio
de ouro e de escravos controlado pelo império
de Songai, o Marrocos lançou diversas
operações militares contra
o sul. Finalmente, uma grande expedição
foi enviada através do deserto, a
fim de conquistar o império gao.
O Áskia Ishaq II, que soube dos preparativos,
limitou-se a ordenar aos tuaregues que aterrassem
os poços do grande deserto, o que
parece que não foi feio. Quando as
tropas marroquinas ingressaram, chegadas
do grande deserto, no império gao,
o áskia demorou-se na organização
da defesa. Foi à luta quando as tropas
inimigas já estavam às suas
portas. Os invasores bem armados venceram
a batalha de Tondibi (1591) e puseram fim
ao império. Esta derrota era conseqüência
de transformações sociais
e econômicas mais profundas.
Em l449, iniciara-se a construção
da fortaleza de Arguim. Nos anos seguintes,
os portugueses começaram a visitar
freqüentemente as costas da África
Ocidental. Iniciava-se um verdadeiro combate
entre caravelas e os camelos pelo controle
do comércio africano. Um combate
à morte que ocorria no preciso momento
em que o Império de Songai encontrava-se
em um ponto crítico de sua evolução.
O Estado gao perdia as características
gentílicas e clânicas e começava
a constituir-se como organização
estatal clássica. Das três
grandes formações do Sudão,
O deslocamento das atividades comerciais
para a costa encerrava os tempos bons do
comércio transaariano de ouro e iniciava
o do tráfico transatlântico
de escravos.
A organização
econômica, social e política
do império Songai, obedeciam em geral
ao modelo organizativo de Mali. O Poder
dos Áskias, entretanto, estendia-se
desigualmente sobre os territórios
incorporados, plena ou parcialmente, ao
império (Estados submetidos, tributários,
aliados, etc.). O território sob
a total autoridade gao tinha um aparato
administrativo nacional, regional e local
com funções claramente delimitadas.
Entre as diversas funções
e cargos administrativos, está documentado
o título de “chefe do tesouro”
(kalissi-farma), o de “chefe dos negócios
com os brancos” (koréi-farma),
o de “responsável pelas florestas”
(são-farma) e inúmeros outros.
Um exército de aproximadamente 50
mil homens garantia o poder do Ásia
e a autoridade Songai sobre o império.
Os Áskias
recebiam rendas dos Estados tributários
ou submetidos, dos camponeses, dos artesãos,
dos comerciantes e dos pastores livres.
Como os senhores do Mali, eles exerciam
uma autoridade direta sobre as comunidades
que “possuíam” como se
fossem bens pessoais. Estas comunidades
eram, em geral, administradas por escravos
dos áskias – os fanas –
que se apropriavam de parte dos bens produzidos
pelos “servos”. Era dentre estes
segmentos sociais que os senhores songais
retiravam, na maioria das vezes, seus soldados,
mensageiros, trabalhadores domésticos
e, até mesmo, administradores. Como
Mali, a coesão das comunidades aldeãs
livres foi sempre uma trava à autoridade
despótica dos áskias e uma
crescente exploração dos produtores
diretos pelos setores administrativos e
senhoriais.
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