Quando
os portugueses chegaram à foz do
rio Zaire encontraram dois reinos, Kongo
e Ndongo. Ndongo foi fundado no início
do século XVI, por um pequeno chefe
Kimbundo que possivelmente, controlava o
comércio de ferro. Os primeiros ngolas,
partindo da possível ligação
com a arte do ferro, estenderam a autoridade
do Ndongo sobre diversos sobas. (Soba: do
quimbundo, senhor de um distrito) para terminarem,
em meados do século XVI, ocupando
as terras compreendidas entre os rios Dande,
Lucala e Cuanza.
Os ngolas
foram obrigados a se submeteram os manikongos
e pagarem impostos e rendiam a eles homenagens.
A organização do estado Ndongo
era parecida com a do Kongo, o estado Kimbundo
só se tornou independente em l556,
quando as tropas do ngola Inene, apoiadas
por alguns portugueses, infligiram uma importante
derrota ao manikongo. Este último,
inspirado pelos
portugueses, tentava uma aventura militar
nos territórios do Ndongo.
Após
a independência do reino do Ndondgo,
o ngola, ouvindo os conselhos dos escravistas
da ilha de São Tomé e sendo
chefe de um estado totalmente soberano,
enviou uma embaixada a Portugal para pedir
contatos diretos com a Coroa. Era a melhor
forma de garantir um fluxo sistemático
dos produtos europeus, imprescindíveis
a chefes políticos que assentavam
parte do poder e prestígio sobre
o controle do comércio de longa distância.
O nula
Ndambi, que sucedeu o Inene e olhava com
desconfiança os contatos com os europeus,
recebeu, em l560, uma embaixada portuguesa
comandada por um jovem e ambicioso nobre
português, Paulo Dias de Novaes, e
mais quatro jesuítas.
As relações
entre a embaixada portuguesa e o ngola ruíram-se
a tal ponto que o único jesuíta
que continuava na região foi reduzido
praticamente à escravidão
e Paulo Novaes foi colocado sob residência
forçada. O jovem português,
em melhores condições com
ngola, voltou à corte em l566, com
um carregamento de escravos e de marfim.
Em Portugal, Dias de Novaes convenceu o
rei a conceder-lhe, como donatária,
as terras defronte à ilha de Luanda
e os territórios orientais que conquistasse.
Ele voltou em l575 como proprietário
exclusivo das terras do manikongo e do ngola.
O desembarque de Dias de Novaes não
encontrou resistência. As terras,
próximas ao reino de Ndongo, onde
alguns portugueses já comerciavam
com escravos, pertenciam ao distante reino
do Kongo. Era nestas praias que os manikongos
mandavam pescar os nzimbos, que serviam
como moeda nacional no reino do Kongo. O
ngola não se sentiu ameaçado.
Mandou, no mesmo ano, uma delegação
de boas-vindas ao nobre lusitano. O lusitano
começou sua expansão a procura
de preta e escravos. Invadiu terras do Ndongo.
O Senhor
africano, após massacrar o comerciante
português aliados de Dias de Novaes,
que se encontravam na capital, reuniu suas
tropas e atacou os lusitanos de Luanda.
Uma longa e sanguinária guerra. Uma
aliança entre Ndongo e Mtamba, um
reino mais a leste permitiu vitórias
importantes sobre os portugueses. A Aliança
entre portugueses e os yagas (jagas) permitiu
que aqueles fossem impondo sua soberania
aos sobas e apoderando-se das terras do
reino do Ndongo. Os resultados da guerra
foram prejudiciais a todos os tipos de comércio,
todo mundo corria perigo e nos primeiro
anos do século XVII, os portugueses
foram obrigados a abrirem uma conversa sobre
a paz em Luanda, com os Kimbundos dos Ndongo.
Ai apareceu à figura de Nzinga pela
primeira vez na vida dos lusitanos, Nzinga
Mbundi – rainha Ginga dos documentos
da época – embaixadora plenipotenciária
de seu tio, o ngola. A Africana mostrou-se
esperta na arte da diplomacia e mais tarde
nas artimanhas da guerra. Ela com habilidade
conquistou na mesa de negociação
quase tudo que o Ndongo havia perdido na
guerra. Morrendo o ngola, ela quebrou as
regras de sucessão e subiu ao poder.
Exigiu então dos portugueses os que
haviam sido acordados no tratado.
Os portugueses
preocupados com a possível aliança
entre holandeses e o manikongo, não
deram importância às exigências
de Nzinga, que de imediato, rearticulou
uma poderosa frente de batalha composta
de yagas, quimbares, cativos fugidos, kongos
e até holandeses. Ocupou o reino
de Mtamba e reforçou suas tropas.
Os portugueses desesperaram. Os holandeses
abandonaram Luanda. Portugal voltou às
negociações.
Inúmeros
historiadores apresentam Nzinga Mbundi como
um exemplo de mulher combatente, no entanto
é bom frisar que ela foi sempre um
expoente de uma elite senhorial envolvida
no tráfico escravista. Sua resistência
visava manter o monopólio das rotas
escravistas.
Estabelecida
à paz, Nzinga estreitou seus contatos
com os negreiros portugueses. Convertida
à monogamia (era casada com inúmeros
esposos) e ao catolicismo como nome de Ana
de Souza, guardou até a morte o poder
e o prestígio que o comércio
negreiro lhe assegurou.
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