O
contato entre o Brasil e Abomei foi estreito.
A maioria dos escravos nagôs chegado
à Bahia, foi embarcada em Ouidah.
Portugueses, brasileiros e ex-escravos desempenhavam-se
como negreiros na região, vivendo
completamente adaptados à vida da
costa. Neste caso encontrava-se Francisco
Félix de Souza, ex-escravo brasileiro
que viveu em Ouidah de l800 a l849. Comerciante
que chegou a possuir imensas riquezas, proveniente
do tráfico negreiro, é claro.
Quando morreu foi enterrado de acordo com
a cultura africana. Brasil e estas regiões
entrelaçavam culturas distintas.
Neste contexto, os retornados brasileiros
foram um fenômeno que marcou, com
a influência da cultura “baiana”,
importantes regiões do golfo de Guiné.
Nas insurreições escravas
da Bahia, que aconteceram principalmente
entre os anos de l807 a l837, participaram
juntos, escravos, diversos africanos nagôs
emancipados, etc., muitos negros livres
foram deportados para a África pelas
autoridades escravistas por terem participado
daquele acontecimento. Africanos livres
da mesma cultura foram expatriados como
medida preventiva. Com a abolição
da escravatura, ou mesmo antes dela, ex-cativos
embarcaram de volta para a África
à procura de suas regiões
de origem. Os africanos, ao chegarem ao
continente negro, tinham alternativas limitadas:
ou voltavam para onde haviam nascido, ou
estabeleciam-se nas cidades da costa. A
primeira solução apresentava
muitas dificuldades. As comunidades do interior
tinham conhecido, não raro, a guerra
e a violência. Muitos destes homens
haviam partido da África há
dezenas de anos. Outros tinham nascido no
Brasil. O interior era uma aventura incerta.
Possivelmente alguns retornados voltaram
às suas terras de origem e lá
foram absorvidos sem delongas pelo meio
social homogêneo e coeso do interior.
Outros
formaram nas costa africana as comunidades
dos retornados brasileiros, que fecundaram
a cultura local com a experiência
adquirida em terras brasileiras. Os retornados
da costa dominavam a língua portuguesa,
essencial ao trágico negreiro e o
ioruba, alguns fizeram fortunas enviando
cativos ao Brasil. Outros tinham habilidades
técnica e exerciam atividades de
pedreiros, alfaiates, barbeiro, ourives,
carpinteiros, etc. A tradição
aponta os retornados como os primeiros artesãos
“europeus” de Lagos. Começaram
a surgir na atual capital da Nigéria,
sobrados luxuosos em estilo baiano colonial
e foi difundido até entre o povo
ioruba.Os europeus estabeleceram comércio
com estes que retornaram do Brasil e os
retornados por suas vez, mantiam comércio
até com o Brasil.
Os Retornados,
agora enriquecidos comerciantes, constituíam
uma comunidade orgulhosa de suas origens.
O ser “brasileiro” era um dado
muito realçado, até hoje se
encontram famílias nigerianas que
se orgulham de sua origem “brasileira”,
o português continuou como língua
materna até l882, quando os ingleses
permitiram somente o aprendizado de sua
língua. Os hábitos alimentares
baianos foram perpetuados.
Estas
comunidades professavam, ao menos socialmente,
a religião católico-romana.
Confrarias religiosas e irmandades foram
estabelecidas como no Brasil. Esta comunidade,
junto com a dos nagôs oriundos de
Serra Leoa, constituiu a primeira burguesia
negra nigeriana. Um grande número
de Retornados empregou-se na administração
pública e dedicou-se à vida
clerical, e preparavam-se para substituir
os ingleses na administração
nigeriana.
As esperanças
políticas dos Retornados mostraram-se
vãs. Os ingleses não se serviram
dos “baianos” para seus projetos
políticos. Preferiram como administradores
colônias, os membros da aristocracia
das comunidades do interior, a qual mantinha
estreitos laços com populações
a serem dominadas. Os retornados considerados
brancos pelos africanos e negros pelos europeus,
viveram uma verdadeira crise de identidade,
frestados nos seus projetos de ascensão
social e política. Muitos se voltaram
para a negritude, para o estudo ioruba e
para as religiões africanas. O declínio
dos “brasileiros” era inexorável.
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